Desde setembro de 2025, uma série de ataques realizados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos contra embarcações no mar do Caribe, próximo às costas da Venezuela e da Colômbia, tem gerado forte controvérsia internacional. Embora o governo norte-americano, liderado pelo presidente Donald Trump, afirme que os alvos eram narcoterroristas ligados a cartéis de drogas, relatos de familiares e moradores das regiões afetadas indicam uma realidade bem diferente.
Operações militares e alegações oficiais
Segundo o Pentágono, os ataques fazem parte de uma campanha contra o tráfico internacional de drogas, com foco em embarcações supostamente operadas por organizações terroristas designadas. Vídeos divulgados mostram barcos sendo destruídos por mísseis e explosões em alto-mar. Até o início de novembro, pelo menos 70 pessoas haviam morrido nessas ações.
O secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, defendeu as operações como legítimas e necessárias para combater o narcotráfico. No entanto, a falta de transparência sobre os critérios usados para identificar os alvos e a ausência de provas concretas sobre o envolvimento das vítimas com atividades criminosas têm levantado sérias preocupações.
Perfis das vítimas: pescadores, motoristas e ex-militares
Reportagens da Associated Press revelaram que muitas das vítimas não tinham qualquer ligação com o tráfico de drogas. Entre os mortos estavam um pescador que vivia com menos de US$ 100 por mês, um ex-cadete militar, um motorista de ônibus e até mesmo um criminoso de carreira — mas sem envolvimento com cartéis internacionais.
Moradores das cidades litorâneas venezuelanas relataram que os ataques atingiram embarcações comuns, usadas para pesca ou transporte local. Parentes das vítimas afirmam que seus entes queridos estavam em busca de sustento, não envolvidos em atividades ilícitas.
Reações internacionais e denúncias de abusos
A ONU classificou os ataques como “execuções extrajudiciais” e exigiu que os Estados Unidos interrompam imediatamente as operações. O alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, declarou que os EUA devem tomar todas as medidas necessárias para evitar mortes arbitrárias, independentemente de qualquer suspeita criminal.
O governo venezuelano também se pronunciou, negando que os mortos fossem membros de gangues como o Tren de Aragua. O ministro do Interior, Diosdado Cabello, afirmou que os EUA confessaram ter matado 11 pessoas em um dos ataques, sem apresentar provas de envolvimento com o tráfico.
Debate sobre legalidade e ética
Especialistas em direito internacional alertam que os ataques podem violar convenções sobre soberania e direitos humanos. A ausência de julgamento, a execução sumária e a atuação em águas internacionais colocam em xeque a legalidade das ações.
Enquanto o governo dos EUA mantém sua posição, cresce a pressão por investigações independentes e responsabilização. A narrativa oficial começa a ruir diante dos testemunhos locais e da indignação global.
