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“Safári humano” em Sarajevo: o turismo da barbárie sob investigação

Publicada em: 12/11/2025 10:57 -

Durante o cerco de Sarajevo, entre 1992 e 1996 — um dos episódios mais cruéis da Guerra da Bósnia — civis foram alvos constantes de snipers posicionados nas colinas que cercam a capital. Agora, quase três décadas depois, o Ministério Público de Milão, na Itália, abriu uma investigação sobre um aspecto ainda mais perturbador desse conflito: a participação de turistas italianos em “safáris humanos”, onde pagavam para atirar em civis desarmados, incluindo crianças.

O esquema macabro

Segundo as denúncias, cidadãos italianos ligados à extrema-direita teriam desembolsado entre 80 mil e 100 mil euros (cerca de R$ 490 mil a R$ 610 mil) para serem escoltados por milícias sérvio-bósnias até pontos estratégicos nas montanhas ao redor de Sarajevo. Lá, munidos de rifles de longo alcance, esses “turistas de guerra” disparavam contra qualquer pessoa que se movesse na cidade sitiada.

A prática foi revelada com mais detalhes no documentário “Sarajevo Safari”, que reúne testemunhos de sobreviventes e ex-combatentes. O filme denuncia como a guerra foi transformada em espetáculo para estrangeiros ricos, que viam o conflito como uma oportunidade de entretenimento extremo.

Repercussão e consequências legais

A Procuradoria de Milão está investigando empresários de cidades como Turim e Trieste, suspeitos de envolvimento direto no esquema. A investigação busca identificar os intermediários, os pagamentos realizados e os possíveis crimes de guerra cometidos. Embora os eventos tenham ocorrido há mais de 30 anos, crimes contra a humanidade não prescrevem, e os envolvidos podem ser responsabilizados internacionalmente.

Além das implicações legais, o caso levanta questões éticas profundas sobre o papel de estrangeiros em zonas de conflito. A ideia de transformar a dor alheia em entretenimento pago escancara a desumanização que pode ocorrer em contextos de guerra — e como o lucro pode ser extraído até dos atos mais brutais.

Sarajevo: símbolo de resistência e dor

O cerco de Sarajevo durou 1.425 dias, tornando-se o mais longo da história moderna. Mais de 11 mil pessoas morreram, e cerca de 60 mil ficaram feridas. A cidade, cercada por forças sérvias, viveu sob constante bombardeio e ataques de snipers, que tornavam qualquer deslocamento uma roleta russa. A revelação de que parte desses disparos pode ter sido feita por turistas em busca de adrenalina adiciona uma camada ainda mais sombria à tragédia.

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