O julgamento de Tetsuya Yamagami, acusado de assassinar o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, teve um marco decisivo nesta terça-feira, 28 de outubro de 2025, quando o réu se declarou culpado diante do tribunal. O caso, que abalou profundamente o Japão e repercutiu internacionalmente, envolve acusações de homicídio e violação das rígidas leis de controle de armas do país.
O crime que chocou o Japão
Shinzo Abe foi morto em julho de 2022, enquanto discursava em um evento de campanha na cidade de Nara. O ataque foi realizado com uma espingarda artesanal, construída por Yamagami, que disparou dois tiros pelas costas do ex-premiê. A violência do ato surpreendeu o Japão, um país conhecido por seus baixos índices de criminalidade com armas de fogo.
Durante o julgamento, Yamagami afirmou: “Tudo é verdade”, assumindo integralmente a responsabilidade pelo crime. A motivação, segundo investigações, estaria ligada ao ressentimento do acusado contra a Igreja da Unificação, grupo religioso que Abe teria promovido. Yamagami culpava a instituição por prejuízos financeiros sofridos por sua família, após sua mãe doar cerca de 100 milhões de ienes (equivalente a R$ 3,5 milhões) à organização.
O legado de Shinzo Abe
Shinzo Abe foi o primeiro-ministro mais longevo da história do Japão, tendo governado por oito anos até sua renúncia em 2021 por motivos de saúde. Reconhecido internacionalmente por sua política econômica conhecida como Abenomics — que combinava estímulos fiscais, flexibilização monetária e reformas estruturais — Abe também foi uma figura central na política externa japonesa, estreitando laços com os Estados Unidos e adotando uma postura nacionalista que gerou tensões com vizinhos como China e Coreia do Sul.
Além disso, Abe foi responsável por uma mudança histórica na interpretação da constituição pacifista do Japão, permitindo que tropas japonesas atuassem no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Seu papel na promoção das Olimpíadas de Tóquio 2020 também é lembrado como parte de seu esforço para reposicionar o Japão no cenário global.
O julgamento e os próximos passos
A primeira audiência do julgamento de Yamagami marca o início de um processo que contará com mais 17 sessões até o final do ano. O veredito está previsto para ser anunciado em 21 de janeiro de 2026. A expectativa é que o caso reacenda debates sobre segurança pública, controle de armas e o papel de figuras públicas na promoção de instituições religiosas.
